quarta-feira, 30 de março de 2016

Aí vai ele

Estes jogos particulares da selecção são sempre aprazíveis como repasto mediático, principalmente em alturas festivas. Com os descontos em cartão lá se consegue organizar o evento, e desta vez até não faltaram os mais altos dignitários da nação. De resto, enchem-se uns pneus, os empresários agradecem, promovem-se mais uns moços, os empresários (e alguns clubes) agradecem. Desta vez não houve invasão de campo. Nem abraço. Foi pena. Os quarenta e cinco minutos de aí vai ele, como dizia o comentador, não chegaram para tanto. O Cristiano já começava a ficar preocupado. Quanto ao jogo, foi bom: afinal ganhamos ao primeiro do ranking. Agora venha mas é o Belenenses. 

segunda-feira, 28 de março de 2016

Boa Páscoa?

[A culpa é do Ronaldo]
A seleção é uma metadona marada, mesmo quando são jogos a sério. Não substitui um chuto para veia como o Paços de Ferreira contra o Tondela. Perdemos. O Ronaldo fartou-se de falhar golos. A culpa é do Ronaldo.

[Táticas]
O Fernando Santos continua a amontoar jogadores e a chamar-lhe convocatória e jogos de preparação. Entram uns tantos para a equipa principal. Entram à vez. Umas vezes entram uns, outras entram outros. Entram quase sempre o Eliseu e o Bruno Alves. A esta confusão chama-se experiências. A equipa passou a jogar num 4x4x2 e não no 4x4x3 do costume, dizem uns tansos.

[A montanha pariu o que era suposto parir]
Fosse qual fosse o resultado, o que interessava era o Renato Sanches. O rapaz aquecia como nunca ninguém tinha aquecido. Quando entrou em campo, informaram-nos que foi o décimo primeiro jogador mais jovem a estrear-se na seleção. Fiquei com vontade de saber quem era os outros dez. Devem ter-se estreado por cunha. Um miúdo entrou em campo para abraçar o seu ídolo. Quando saiu estava cinco anos mais velho.

Jogámos como nunca, perdemos como sempre. Contra uns búlgaros, que jogaram à Fernando Santos, a montanha pariu um r(en)ato.

[Há suecos mais iguais do que outros]
Uma das principais diferenças entre o Sporting e o Porto em andebol nos últimos anos tem estado nos guarda-redes. Suspirei de alívio quando fiquei a saber que tínhamos contratado um guarda-redes sueco.

Perdemos contra o ABC. O sueco não fez praticamente uma defesa. Devemos ter contratado o único sueco com menos de um metro e noventa e que não sabe jogar andebol. Pelo menos é loiro.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A culpa é do vermelho

Ao longo dos últimos dias tem-se discutido por aqui o 'sistema' do nosso futebol. Parece-me uma boa forma de ter tema de conversa neste interregno, já que os jogos da selecção vão alternar entre o sonolento, o chato e o muito chato.

A minha perspectiva é um pouco diferente. Eu não vejo problema nenhum em que o Benfica esteja, na opinião dos árbitros, há um ano sem cometer qualquer falta dentro da sua grande área. Em princípio também não me parece grave que não tenham jogadores expulsos. O que me preocupa é que tal aconteça apesar de, por diversas ocasiões, os seus jogadores terem cometido faltas para grande penalidade ou terem comportamentos merecedores de expulsão. Isso sim é difícil de explicar.

Assim vou procurar perceber porque é que os árbitros não assinalam penalties nem expulsam jogadores do Benfica, apesar deles fazerem por merecer esses castigos. Eu vejo três explicações possíveis:
- Os árbitros são humanos e portanto susceptíveis à corrupção
- Os árbitros são humanos e sentem-se pressionados a não prejudicar o Benfica
- Os árbitros são humanos e erram; existe sempre um factor de incerteza nestas coisas

O primeiro para mim é fácil. Eu apenas consigo ver o futebol como os economistas olham para os mercados: por muito que a realidade teime em desmentir-me eu assumo sempre um pressuposto irreal. Neste caso esse pressuposto é que os intervenientes no jogo não estão comprados. Eu sei que está provado que já aconteceu no passado e há fortes indícios que continua a acontecer no presente. Mas se assim for é caso de polícia, deixo para o Correio da Manhã.

O segundo para mim é mais interessante. Porque motivo estariam os árbitros mais pressionados a não prejudicar o Benfica do que outros? Um primeiro motivo poderia ser a censura social: o Benfica tem mais adeptos e portanto é mais provável um árbitro que erra contra o Benfica ser 'incomodado' por um vizinho ou amigo desse clube. Plausível, mas será que os árbitros se deixam incomodar com tão pouco? Um segundo motivo poderia ser temerem pela sua segurança física. Terão razões para isso? Felizmente não acontece muitas vezes, portanto usemos a nossa memória. Qual a última vez que me lembro de um árbitro ser agredido num jogo da nossa primeira divisão? Se a memória não me falha foi exactamente no estádio da Luz (https://youtu.be/kgSZj8UdEqk). E qual a última vez que um árbitro de futebol profissional se queixou de agressões graves fora de um estádio? Que me lembre foi Pedro Proença, agredido no Colombo. Alguém quer adivinhar de que clube era o agressor? Parece que aqui há gato. Finalmente, os árbitros podem ser pressionados pela sua própria estrutura, por exemplo, através das suas nomeações e avaliações. O que o passado nos diz sobre isto? Também nos diz alguma coisa. Diz-nos que o último árbitro a assinalar um penalti contra o Benfica... desceu de divisão. Curiosamente um árbitro internacional e que alegadamente era tão melhor que os seus colegas que foi nomeado para arbitrar um dos jogos mais importantes da época (a final da Taça). Pode não haver casualidade nos factos mas lá que é estranho... Curiosamente o mesmo árbitro relatou interessantes telefonemas do Presidente do Conselho de Arbitragem, que apenas aconteciam antes de dirigir jogos do... Benfica! Mais um gato?

Apesar da conversa já ir longa não queria deixar de mencionar a sorte. A sorte é sempre útil para explicar estas coisas. Talvez em todos estes lances em que se justificava um penalti ou uma expulsão o Benfica tenha tido a sorte dos árbitros lhe darem o benefício da dúvida. Talvez o Sporting esteja a ter um notável azar, já que parece que 41% dos golos que sofreu no campeonato foram ilegais (http://misterdocafe.blogspot.com/2016/03/41-dos-golos-sofridos-pelo-sporting-sao.html). É pouco provável, mas não é impossível.

Apesar de nenhuma das explicações se poder refutar, não fiquei satisfeito e fui pesquisar. Tenho boas notícias: encontrei uma explicação verdadeiramente científica. Acabou a discussão: a culpa é da cor das camisolas! Sim, isso mesmo. De acordo com este site (http://www.usrefereeconnection.com/#!referees-unconsciously-favor-teams-in-red-uniform/cj62) uma equipa da Universidade de Munster na insuspeita Alemanha concluiu que os árbitros inconscientemente beneficiam as equipas de vermelho.

Fabuloso, excelentes notícias. Agora sim, podemos deixar de falar do sistema e ter uma Páscoa descansada, muito descansada, até porque a selecção joga de... vermelho!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Futebol contrafeito

Durante muitos anos frequentei a feira de Barcelos, cidade de onde sou natural. Lá se encontrava (e encontra) um pouco de tudo. Relativamente ao material contrafeito poderíamos estabelecer (assim por alto) uma classificação de 3 tipos: O óbvio (aquele que tem adidas escrito com “z”, por exemplo), o muito bom, que passava bem na montra de qualquer loja (caso não muito raro) e, por último, o verdadeiro não autenticado, o material era o mesmo (produzido, aliás, nas fábricas da região para as marcas) mas sem o logótipo da marca em causa. Será a etiqueta que faz a diferença?

E o Sporting deste último jogo, o tal das camisolas com nomes trocados para combater a contrafacção. Qual será a verdadeira versão do Sporting? Será a contrafeita? E assim sendo, qual? Na verdade, o Sporting desta jornada foi igual ao Sporting de jornadas anteriores, mas com (muito) mais eficácia (há que dizê-lo) e sem o colinho quentinho da alcova onde outros se deitam. Em determinados momentos (não é preciso sempre) dá jeito uma caminha bem-feita. Tinha dado jeito em Guimarães onde outros trouxeram uma vitória com um colinho do tamanho do Guerra. Por exemplo.

Ao analisarmos o facto de o Benfica não sofrer qualquer penalti há mais de um ano, acompanhado de uma sobremesa sem direito a qualquer cartão vermelho, estamos perante as tais coincidências que por vezes nos remetem para a hoste dos incrédulos. É o seu conjunto que não nos permite acreditar em nenhuma em separado. Quer dizer, poderia ter acontecido não existirem penáltis. Mas será esse o caso? Sabemos bem que não. E expulsões? Ninguém foi expulso, é um facto, mas ninguém durante esse tempo mereceu ser expulso? Basta o exemplo do Sanches contra o Sporting, e o seu posterior tratamento jornalístico, para percebermos como funciona a geringonça gerida pela liga e abençoada pelo sistema.

O sistema tem um nome (ou dois, consoante), ontem e hoje: Porto e Benfica. Atente-se na ânsia como estes queriam (e querem) um Sporting fragilizado para poderem repartir as conquistas, sejam estas desportivas, sejam financeiras (num país de parcos recursos). Ainda o ano passado, faziam tábua rasa das suas diferenças, as tais que causaram uma guerra no futebol nacional, com apitos pintados de dourado, apenas para tentarem lançar o Sporting borda fora. Deu no que deu. Recordo-me bem da atitude paternalista e condescendente de Pinto da Costa para com o Sporting liderado por Godinho Lopes, no ano do nosso sétimo lugar. Foi aí que percebi o buraco em que estávamos.

Existe, de facto, muita contrafacção no futebol português (começando na liga e na FPF), e olhem que é daquela contrafacção que se vê à vista desarmada, a óbvia, a tal onde adidas se escreve mesmo com “z”: Adidaz.  

domingo, 20 de março de 2016

Momento Rúben Semedo

Corria a segunda parte com quatro a zero no marcador. Num lance (normal) disputado ainda no meio campo do Sporting ocorre um choque entre o Semedo e um jogador do Arouca (apenas mais tarde percebemos que se trata de um embate entre cabeças). O jogo seguiu, o Semedo tinha caído. Levanta-se, e volta a cair. Os jogadores apercebem-se, o árbitro manda parar o jogo. Agora estão todos à volta dele, o Semedo tenta levantar-se mais uma vez, está meio trôpego, aconselham-no a ficar ali sentadinho. Mas ele não quer perder tempo. Diz que está tudo bem, quer voltar ao jogo, insiste, o arbitro manda-o sair de campo. O Semedo sai do campo com o médico a aconselhar-lhe calma, os dois conversam, o médico (já fora das quatro linhas) observa o jogador. Está tudo bem, o jogador pede para entrar.

Nada disto durou mais do que um minuto ou dois, foi apenas um pormenor, mas percebeu-se bem a firme vontade do Semedo em continuar em jogo. Percebemos bem o seu compromisso com a equipa e com o clube. Estes jogadores acreditam: cada jogo do campeonato é uma final da liga dos campeões.

Talvez por isso o Jesus o tenha resgatado ao Setúbal. O Semedo vai crescendo de jogo para jogo, e a sua velocidade e poder de antecipação dão bem com a classe do varal do Coates. Temos centrais. Já do lado direito da defesa temos às vezes uma espécie de open space, onde o Schelotto surge apenas aquando do after hours, ou na hora lounge. Os primeiros quinze minutos da partida são exemplo disso mesmo.

Relativamente ao Teo, soou a campainha lá em casa: afinal não tem contrato vitalício com a selecção (não foi convocado), nem joga por decreto. Ontem chegou mesmo a entrar em campo e a jogar. O Jesus disse-lhe para ele se colocar ali por perto do guarda-redes que a bola acabaria por aparecer e depois logo se via. Os jogadores e o treinador do Arouca, pelo seu lado, estavam convencidos que o Teo não entraria em campo e mesmo que entrasse não se notaria. Afinal o Teo andava mesmo por ali (e notava-se bem). Ou então estou como o Rui Monteiro: a versão contrafeita é bem melhor. 

sábado, 19 de março de 2016

Aselhice virtuosa ou virtuosismo aselha

Hoje não arrisquei nada. Voltei ao Tribuna, para a mesma mesa e a mesma cadeira da primeira parte do jogo contra o Estoril. Aviei também uma tosta-mista e uma Coca-cola com duas pedras de gelo, enquanto lia o Público e o Jornal de Notícias. Quando começou o jogo, o ritual estava cumprido.

O Jorge Jesus também não inventa nada (o Bruno César não foi uma invenção, foi uma necessidade). O Teo voltou a jogar de início. Neste jogo todos percebemos finalmente a insistência. O Teo acrescenta algo de invulgar à equipa, deixando o adversário sem capacidade de reação às suas jogadas. À falta de melhor definição, acrescenta o que poderíamos chamar de aselhice virtuosa ou virtuosismo aselha. A forma como entrou simultaneamente com o pé e com a cabeça à bola no primeiro golo deixou o guarda-redes desconcertado. Não fez melhor figura o guarda-redes com a notável rosca do quarto golo. O chuto metade na bola metade na atmosfera implica um cálculo mental só à disposição dos predestinados. Pelo meio, uma assistência para o segundo golo resultante de tanta atrapalhação e hesitação que deixou a defesa do Arouca sem capacidade de antecipar o que se iria passar.

Os golos de que mais gosto são os de canto. Neste caso, não demonstram, somente, a tal aselhice virtuosa ou virtuosismo aselha. Demonstram treino. Bola tensa para o meio, cabeceamento das nossas torres e entrada do avançado ao segundo poste. Também é diferente ter o Bruno César a marcar com bolas tensas ou o João Mário a bombear bolas cheias de altura e de efeitos para a molhada.

O João Mário esteve magnífico. Tem o defeito de precisar de vinte e quatro oportunidades para marcar uma. Hoje teve quarenta e oito. Tudo o resto faz sempre bem. O Adrien também faz tudo bem, mesmo quando perde a bola no meio-campo e permite a principal oportunidade de golo do Arouca. No terceiro golo, aquela tabela com o Slimani, o ziguezaguear entre os adversários e a assistência quase sem querer já não se viam desde que o Zidane pendurou as botas.

Os centrais, a continuarem a jogar assim, vão-me obrigar a rever alguns dos conceitos que tinha como adquiridos. Porventura, posso vir a reconhecer que os centrais também podem saber jogar à bola. Nunca vou abdicar é da necessidade de baterem nos adversários.

Não houve muito mais nada que mereça grandes referências. O Bruno César pareceu-me bem a lateral. Passou a ter uma boa desculpa para não correr tanto. Alguém precisa de explicar ao Bryan Ruiz que os golos se marcam como no quinto golo e não com tentativas umas atrás das outras de fazer um chapéu ao guarda-redes de qualquer parte do campo. O Schelotto continuou a alternar entre qualquer coisa e outra coisa qualquer. O Slimani está um senhor. Não importam os golos. O que importam são as assistências. De calcanhar ou de outra forma qualquer.


(Afiambrámos o Benfica em futsal. Ou muito me engano ou um tal de Fortino era capaz de nos dar jeito na equipa de futebol de onze. Mesmo que não jogasse, podia ensinar os outros a dominar uma bola sob pressão dos adversários, a jogar de costas para a baliza, para fazer passes para os remates dos colegas, ou a marcar golos de cabeça)

sexta-feira, 18 de março de 2016

Construir o inimigo

Esta semana foi pródiga em eventos (supostamente) desportivo-mediáticos. O Carrilho terá sido visto num dentista em Gondomar. Carrilho recusa-se a ingerir quaisquer alimentos sólidos ou líquidos na academia (vai com a marmita, presume-se). Carrilho pede para esperar no quarto e desde então não mais é visto. Terá sido por na triagem lhe terem dado a pulseira verde? Não sabemos. Terá mesmo estado na academia, ou seria um sósia? Ninguém sabe. Informações fidedignas situaram Carrilho no Sardinha Viva, em Braga, uma destas noites. Se não era ele era muito parecido, terá dito a fonte. Entretanto, ficamos a saber que o Coates recebe um ordenado chorudo, e não um pagamento em géneros, como é apanágio dos outros clubes que disputam a liga. Por outro lado, consta que o Sporting não vai accionar o alçapão e o Ezequiel Schelotto ficará por mais três temporadas no plantel. A sério.

Se na outra semana tivemos o caso dos panfletos, nesta tivemos direito ao não menos mediático (e francamente previsível) Ináciogate. Umberto Eco explica bem estas geringonças no seu livro “Construir o Inimigo – e outros escritos ocasionais”. Leiam que vale a pena.

No meio disto, lembrei-me que amanhã há jogo com o Arouca. A equipa do Lito Vidigal deve aparecer na sua versão autocarro colorido, uma daquelas camionetas da carreira que por fora têm escrito ecológico, mas que deitam fumo negro pelas bordas. É com esse fumo que nos devemos preocupar. Com esse fumo e com o Schelotto, que se vai manter na equipa, jogando o João Pereira a lateral esquerdo. Diz que o Teo (se não for possível amarrá-lo a uma árvore) deverá jogar de início. Ou teremos um momento Slibarcos?


Nota: Amanhã temos derby em futsal com o Benfica e uma importante deslocação a Braga, para o primeiro jogo do play-off (meias-finais) com o ABC em Andebol. No domingo, viagem a Valongo para jogo de Hóquei em patins com a equipa local. 

quinta-feira, 17 de março de 2016

Quod erat demonstrandum

O Inácio disse qualquer coisa sobre a influência do Benfica no espaço mediático. Passado uns dias, afixaram numa primeira página de um qualquer jornal que tinha dívidas ao fisco. Ficou demonstrado.

terça-feira, 15 de março de 2016

Jornalistas e treinadores de bancada

Há dias, no Lateral Esquerdo, escrevia-se sobre os treinadores de bancada. O registo não era o mais simpático para os ditos. Não me revejo nessa leitura da realidade. Mas esta minha apreciação não é muito relevante nem a razão para escrever esta "posta" .

Lemos livros e comentamo-los sem nos pretendermos substituir aos escritores. Vemos exposições e comentamo-las sem nos pretendermos substituir aos artistas plásticos. Vamos ao cinema e comentamos os filmes sem nos pretendermos substituir aos realizadores e atores. Podia continuar neste registo sem nunca mais parar.

As manifestações culturais, artísticas e desportivas, têm várias razões de ser. Uma delas é a de serem apreciadas. Mesmo que sejam poucos, estas manifestações não existem sem espetadores (sem o “c” esta expressão presta-se a todos os equívocos). Com as redes sociais, a opinião dos espetadores popularizou-se sociabilizou-se. Sinais dos tempos e nada mais.

O problema não está nos treinadores de bancada. Para bem do futebol, ainda bem que existem e espera-se que sejam cada vez mais. O problema é que a relação entre o futebol e os seus públicos, como qualquer outra manifestação desportiva ou cultural, deve ser mediada pelos jornalistas. Não se exige aos jornalistas o mesmo que se exige a um treinador de bancada.

A um treinador de bancada não se deve exigir mais nada para além do respeito pelos adversários. Aos jornalistas exige-se que conheçam tecnicamente bem a realidade sobre a qual informam. O problema está exatamente aqui. A maioria dos jornalistas desportivos não se diferencia do comum treinador de bancada, com a agravante de não fazerem qualquer declaração de interesses. Com melhores jornalistas, a discussão pública sobre o futebol seria seguramente mais qualificada. Os treinadores de bancada, como eu, agradecem.

domingo, 13 de março de 2016

Sli + Teo = Slimani

A análise ao jogo de ontem já aqui foi feita, e bem, pelo Rui Monteiro na posta anterior. Vou deixar apenas duas notas como quem não quer a coisa.

Durante esta semana o castigo a Slimani (as tais 500 chibatadas) esfumou-se misteriosamente, nem de um possível amarelo que o excluiria do próximo jogo se falou. Percebe-se: o país andou em festa. Entretanto, começa o jogo na Amoreira e Slimani marca. Depois faz uma ou duas assistências para golo que os colegas fazem questão de falhar, com ar de maçada. Entretanto, Slimani marca outra vez. Um golo de quem acredita que é sempre possível a existência do pai natal. O Slimani não marcou mais. O Sporting não marcou mais. É simples.

Acredito que o Jorge Jesus conhecesse o tal Teófilo Gutierrez e hipoteticamente tivesse criado um modelo, uma estratégia, o germinar de uma ideia, sei lá, onde aquele encaixasse e, nesse sentido, teria solicitado a sua contratação. Sucede que os modelos abstractos, as estratégias, as tácticas, são simples meios para atingir determinados fins, neste caso ganhar jogos, não constituindo fins em si mesmos. O tiki-taka em abstracto não passaria de um modelo esquecido se determinada equipa e treinador o não tivesse demonstrado eficaz no terreno. Se eu quiser explicar o tiki-taka a alguém, recorrendo ao visionamento de alguns jogos do (suposto) tiki-taka entretido do Porto de Lopetegui, corro o risco de o meu interlocutor ficar a pensar que nem sempre o jogo de futebol tem balizas, ou outras coisas estranhas. Este Teo não deve ser o tal Teófilo Gutierrez que o Sporting queria contratar. Isso, ou Jorge Jesus sabe qualquer coisa que nós não sabemos. Mas lá que na prática não resulta, não resulta.

sábado, 12 de março de 2016

A rigidez da oferta de golos

A minha filha veio passar o fim-de-semana a casa. Caso raro e, portanto, motivo de festa. Fomos almoçar fora. Fomos ao sítio do costume almoçar o que sempre almoçámos. Há hábitos que não se podem perder. Pelo caminho, ainda lhe expliquei que os quadros de Van Gogh têm uma oferta completamente rígida. O homem já morreu e por muito que os preços das suas obras aumentam ele não pode pintar mais nenhuma. Não consegui explicar a variação do excedente líquido dos produtores se porventura se descobrissem mais dois ou três quadros dele (dão-se alvíssaras a quem souber explicar).

A compreensão de um génio criador, como o Van Gogh, foi fundamental para ver o jogo do Sporting. Os génios criam a partir de praticamente nada. Uma ideia, uma sensação, qualquer coisa no ar permite a criação da obra de arte. Foi o que fez o Slimani duas vezes. No primeiro golo, a receber um alívio da defesa do Estoril, a fintar, sem praticamente se mexer, mais um defesa e a rematar ao ângulo. O segundo golo só existe na cabeça dele, em termos literais e metafóricos.

Depois do jogo da semana passada, mudei de estádio. Decidi ver o jogo no Tribuna, onde estive a trabalhar durante a tarde, enquanto a minha filha estudava. Vi-o em modo sportinguista escaldado de água fria tem medo. O Slimani tranquilizou-me, sem que antes do segundo golo começasse a ver entrar em funções o talhante Manuel Mota. O Aquilani é derrubado com uma entrada ao tornozelo sem que seja mostrado o amarelo. O Slimani continua a não poder receber nenhuma bola de costas. Leva sempre paulada, ficando o árbitro na expetativa se ele vai responder ao adversário ou protestar para levar um amarelo. A dualidade de critérios em todos os lances ainda na primeira parte era por demais evidente.

 Ao intervalo a minha filha quis voltar para casa. Temi o pior. Tinha que ver a segunda parte no Flávio. Os meus receios tinham toda a razão de ser. O Sporting deixou-se embalar na sua própria música. Displicentemente, foram falhando golos atrás de golos e ataques prometedores. Se a oferta de golos do Sporting não é rígida é, pelos menos, muito pouco elástica. Sejam quais forem as oportunidades, dificilmente se marcam mais de dois.

De um canto, surge o golo do Estoril. Ganham ânimo e o Sporting acagaça-se. O Manuel Mota continua com a dualidade de critérios. O exemplo mais divertido foi a do golo do Estoril e de um lance de ataque do Sporting logo a seguir. O golo do Estoril é no limite do fora-de-jogo. De imediato, é marcado um fora-de-jogo ao João Mário que estava em posição regular mais de um metro. Começam as faltas e faltinhas, como diria o outro, para o Estoril poder tentar o que não conseguia de bola corrida. Acabámos com o Patrício a safar o empate, depois de uma falta não marcada sobre o Coates.

Vamos ter de viver com esta situação até o fim: a dualidade de critérios da arbitragem e a incapacidade de marcar golos face às oportunidades criadas e ao volume de ataque desenvolvido. Depois há os casos perdidos. O Schelotto alterna o menos mau com o horrível. O Aquilani dispõe de todas as condições para, no próximo ano, estar na “Major League Soccer”. O Teo estava bom para o futebol de praia, antes de o futebol de praia se transformar numa modalidade como as outras. Agora resta-lhe a praia porque o futebol já não é para ele, se é que alguma vez chegou a ser.

Pre-match

Não se percebe. Com um jogo de tamanha importância para as aspirações das equipas (Estoril-Sporting) a realizar-se hoje, e não se vislumbram televisões, jornalistas, comentadores, blogueiros e curiosos, junto aos locais do costume, academia, hotéis, bares, estádio, casa dos pais dos jogadores, barbearias e roulottes de bifanas, para nos fornecerem informações relevantíssimas, a saber: a ementa do almoço; os livros que os jogadores andam a ler (estou a brincar); os resultados dos jogos na consola; as horas a que o Carrilho saiu da discoteca; as horas a que Bruno de Carvalho entrou na discoteca, supostamente para zurzir num alegado autor de panfletos; entre outras. Cheira-me que ainda andam a ruminar um after-match recente.

Os Sportinguistas, pelo seu lado, fizeram o seu trabalho. Esgotaram os bilhetes disponíveis em Alvalade (e não só), e passaram a noite à procura do Teo, em vão, para o amarrar a uma árvore, como se faz ao bardo nos livros do Astérix. Nós acreditamos em vocês, foi o que disseram antes de adormecer. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

«O futebol digno dos filhos de prostitutas»


Eu, atraído pelo título, fui ler. Fiquei desiludido. Afinal era “só” um artigo sobre jogadores de futebol que têm em comum serem filhos de prostitutas. Inocente, ainda pensei que fossem contar também a história dos verdadeiros filhos da puta que mandam na bola. Afinal não. Era sobre gente honesta.


(Pode ler aqui o artigo:  http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-10-O-futebol-digno-dos-filhos-de-prostitutas). 

quinta-feira, 10 de março de 2016

A insustentável leveza do jogo

A modalidade (ou a noção) de pre-match nunca teve grandes adeptos em Portugal. No nosso país, a modalidade por vocação chama-se after match, ou pós-match (a língua inglesa irrompeu pelas nossas fronteiras), modalidade essa que tragou a pre-match, e mesmo o match, propriamente dito. O match, cá no burgo, até pode ter acontecido, mas não interessa para nada. Muito menos o que se passou lá dentro. O match, para sermos sinceros, é uma entidade misteriosa, daquelas que os detectives Scully e Mulder são chamados a resolver, acabando por andar ali às aranhas, e no final a coisa fica sempre envolta numa névoa cujo vértice maior é o homem do cigarro.

Na verdade, a modalidade de pré-match existe na medida em que se encaixa num contínuo pós-match, daí que possa surgir a questão: qual destes terá aparecido primeiro? Ao tentarmos fazer uma aproximação aos jogos desta semana, por exemplo, ao Estoril – Sporting, somos imediatamente subjugados por determinada(s) narrativa(s) (para utilizar um termo em voga) que se foram construindo, ao ponto de recentemente um comentador se referir à crispação que envolveu o Rio Ave- Braga, como um efeito de contágio da violência verbal de Bruno de Carvalho. Lá está o efeito borboleta a fazer das suas.

A realidade anterior a cada jogo faz parte de um novelo (tenho dificuldade em encontrar uma boa expressão) que resulta de um corte&cose constantemente ruminado, cujo desenlace será supostamente desvendado num futuro esmiuçar desse jogo até ao tutano, sem que se fale um minuto que seja de futebol: o jogo. E assim sucessivamente.

Esperamos que o Sporting tenha tomado as devidas precauções, sugerindo ao Estoril a realização do próximo match num qualquer local solarengo (já se realizou um no Algarve, com excelentes resultados), quem sabe nas ilhas Fiji, onde a massa adepta canarinha é enorme, como bem sabemos. De resto, enquanto o Ruiz não vai a Fátima de joelhos martirizar-se pelo falhanço da semana passada (não devendo faltar muito, pelo que se pode ler na imprensa desportiva), só nos resta desejar que, tendo Jorge Jesus de mudar a dupla de centrais mais uma vez, o Teo seja um dos felizes contemplados. Ao lado do Semedo, que renovou. 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Parabéns!

O Benfica ganhou ao Zenit. Está entre as oito melhores equipas da Europa. Por mim, vinha o Wolfsburg a seguir e não se falava mais nisso. É pena, aliás, que não possa vir o Gent. Não tenho dúvidas que o Benfica está entre as melhores quatro equipas da Europa pelo menos.

terça-feira, 8 de março de 2016

Um milhão de razões para não continuar ou talvez não

Há uns tempos atrás atingimos 1.000.000 visitantes. Nada que se compare ao que vou vendo por aí. Suficiente para não ser uma vergonha. Era um bom resultado para acabar com o blogue. Não tenho nem muito tempo nem muita paciência para continuar.

Escrevo sobre futebol por razões terapêuticas. Enquanto vejo futebol e escrevo sobre futebol não penso noutras coisas. A minha mulher obriga-me. Sou um chato e sem bola ainda mais chato fico.

Tenho convidado várias pessoas para escrever. Com a exceção pontual do João ou do Trindade, todas me abandonaram. Não devo ser uma grande companhia. Resolvi tentar mais uma vez. Convidei o Gabriel Pedro que teve a amabilidade de aceitar. Escreve como poucos. Vale a pena lê-lo aqui. Percebe a importância da dimensão trágica – e cómica também – na união desta família sportinguista. É a nossa identidade. As famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Não interessa a razão

O Jorge Jesus tem razão quando afirma que o Benfica não sabe como é que ganhou. O Sporting coletivamente é uma equipa mais forte que o Benfica. Jorge Jesus acrescenta às equipas que treina. A dimensão tática e coletiva que acrescenta às equipas que treina coloca-as mais próximas de serem bem-sucedidas. Só que estar mais próxima de ser bem-sucedida e ser bem-sucedida vai uma distância. Um treinador só controla aquilo que é controlável por ele. A qualidade dos jogadores em determinados momentos e a sorte, no futebol, mais do que em qualquer outra modalidade, fazem a diferença.

Como aqui escrevi, o Sporting este ano não tem melhores jogadores do que no ano passado. Essa diferença é muito significativa no ataque. Perdeu os melhores jogadores da época passada: Nani e Carrillo; sem ter encontrado alternativas à altura. Também precisava de encontrar um segundo ponta-de-lança. O Montero não é suficientemente regular. Também não é suficientemente intenso na pressão sobre a saída da bola da defesa para uma equipa que jogue com dois pontas-de-lança, deixando a equipa descompensada. O Teo foi uma contratação desastrada e a insistência nele acentuou o desastre. É exatamente no ataque que a qualidade dos jogadores mais diferença faz.

O Jorge Jesus exige muito aos seus jogadores. É necessária muita disciplina individual e coletiva. É necessário estar sempre pronto para pressionar o adversário quando se perde a bola. Quando se ganha a bola, é necessário dispor sempre de linhas de passe seguras. Não há espaço nem tempo para distrações ou para descansar dentro de campo. Esta exigência paga-se do ponto de vista físico e anímico. Só nas últimas duas épocas no Benfica é que o Jorge Jesus percebeu a necessidade de gerir melhor a equipa. Na penúltima, tinha alternativas para todos os gostos e feitios. Na última, o avanço que conquistou ao início permitiu-lhe fazer essa gestão sem grandes contratempos.

No Sporting, não há um plantel com suficientes soluções que permita a gestão do esforço da equipa. Na segunda volta tem acontecido o que aconteceu em algumas épocas no Benfica: a equipa e os seus principais jogadores encontram-se profundamente desgastados. Por isso é que sempre se defendeu que a participação na Liga Europa diminuía a equipa e as suas possibilidades de ser bem-sucedida no campeonato. Esta situação seria sempre agravada, face aos seus adversários, pelo facto de ter começado a época mais cedo, fruto da participação na pré-eliminatória da Liga dos Campeões. O Jorge Jesus também estava consciente destas dificuldades, mas havia pouco que pudesse fazer.

Tendo toda a razão do Mundo, o Jorge Jesus perdeu uma boa oportunidade para estar calado. O futebol não é patinagem artística, como costumo dizer. Não interessa a nota artística ou a técnica. Só interessam as que entram. O Benfica ganhou o jogo que tinha de ganhar. O Sporting perdeu o jogo que não podia perder. Pensei que o Kelvin lhe tinha ensinado alguma coisa. Pelos vistos, não.

sábado, 5 de março de 2016

Quando não se sabe mais …

O jogo resume-se a pouco. O Sporting entrou hesitante. Não quis pegar no jogo desde o início. Quis jogar nas transições. O Benfica marcou um golo às três tabelas. O Sporting passou a correr atrás do prejuízo.

O Benfica jogou à equipa pequena. Todos cá atrás e à biqueirada para a frente. Na segunda parte não conseguiu fazer uma jogada sequer. Mas fez o que tinha a fazer de forma competente. O Sporting não fez o que tinha a fazer de forma competente. Não foi a primeira vez. Com o Tondela, o Boavista e o Rio Ave foi a mesma coisa.

O problema do Sporting é e sempre foi desde o início a falta de qualidade na frente. Nestes jogos, sem espaços, é preciso desequilibrar e chutar à baliza. Não há quem desequilibre e muito menos quem tenha fogo nas botas. Quando para fixar mais o Slimani na área só se tem o Teo para lançar no ataque, está praticamente tudo dito. Se não está tudo dito o resto fica dito quando se vê o Adrien a marcar livres directos ou qualquer canto ou livre a não dar rigorosamente em nada.

Não consigo culpar os jogadores do Sporting por este resultado. Os jogos de futebol são assim. Sofreram um golo às três pancadas. A partir daí, bloquearam todos os ataques da equipa adversária. Atiraram uma bola à trave. Viram o Ruiz falhar dois golos cantados de baliza aberta, o último de forma escandalosa. Fizeram o que sabem e o que lhes mandaram fazer. Não sabem mais. É a vida.


(Ao Renato Sanches tudo lhe é permitido. A jogar assim será um grande jogador no Benfica. Qualquer outro com a mesma tolerância seria o mesmo. Não sei se virá a ser um grande jogador em qualquer outra equipa de futebol. Só no Benfica, em Portugal, é que se permite que os jogadores joguem assim)   

quarta-feira, 2 de março de 2016

A única maneira de fazer um balanço é olhar para os números

Existem várias formas de avaliar o trabalho de Jorge Jesus. Podemos olhar para as competições todas ou só para o campeonato. Lá para fora ou cá para dentro. No meio do ruído sugiro olhar para os números.

Comecemos pelo que não se refere ao campeonato. A Supertaça foi ganha, pelo que melhor é impossível. Da Taça saímos em Braga nos quartos-de-final, o que, independentemente da atenuante da forma como saímos, não envergonha ninguém. Da Champions saímos como saímos contra uma equipa forte. Da Liga Europa saímos da mesma maneira que no ano passado: nos 16-avos e a jogar com os Alemães... No fim ganha(-nos) sempre a Alemanha. Na Taça da Liga nem devíamos ter entrado, já saímos tarde.

Quanto ao campeonato o blog "A Tasca do Cherba" publica hoje uma interessante estatística sobre as classificações à 24a jornada nos últimos anos  («Orgulho de Campeões»). Os números envergonham-nos tanto como clarificam: é preciso recuar a 2001/2002 para nos encontrar-mos em 1º (curiosamente na altura também com 1 ponto de vantagem sobre o 2º). É preciso recuar a 2006/2007 para nos ver na luta pelo título por esta altura.

Finalmente há a questão do orçamento. Claro que Futebol não casa sempre com finanças, mas se fossemos pela via do 'investimento' o Porto tinha de ser campeão de caras (isso talvez explique o despedimento de Lopetegui). Rui Vitória devia estar destacado no 2º lugar (o que até é o caso) e o Sporting devia estar confortável em 3º.

Digo isto esta semana porque foi esta semana que vi isto. Não quero com isto 'nivelar por baixo', o lugar do Sporting é em 1º, sempre. Agora o que não deixa de ser interessante é que a generalidade dos opinion makers da nossa praça coloquem a pressão toda em Jorge Jesus, ignorando o facto de: (1) Já ter ganho um título; (2) estar claramente a superar as expectativas. Não sei a que se deve a incapacidade de olhar para os números. Pode dever-se a isso mesmo, incapacidade. Ou pode ser uma tentativa de usar análises mais subjetivas desviar a pressão de um lado, para colocar no outro.